A perturbação de stress pós-traumático surge a partir de uma reação anormal a um evento traumático grave. Foi mencionada, pela primeira vez, como categoria diagnóstica em 1980 no Manual Diagnóstico e Estatístico para Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana – DSM III. Várias situações traumáticas poderão conduzir a este transtorno, entre as quais, experiências de combate, violações, ameaças à integridade física, fome e isolamento.
Caracteriza-se pelo desenvolvimento de sintomas específicos, entre os quais, pensamentos intrusivos, estar excessivamente atento a tudo à sua volta, revivências do trauma, evitamento de qualquer atividade social e anestesia emocional. Reações igualmente importantes são a fadiga, dificuldades de concentração, irritabilidade, insónias, despertares ansiosos ou pesadelos.
Nem todos os indivíduos que vivenciam um evento traumático desenvolvem esta perturbação. É maior a probabilidade em sujeitos com sentimentos de insegurança, falta de controlo pessoal e baixo suporte social. Está normalmente associada a outros transtornos psicológicos, nomeadamente depressão, abuso de substâncias (álcool e/ou drogas) e dificuldades sexuais.
Num contexto mais abrangente, é comum que as esposas e filhos, por exemplo, dos veteranos de guerra, apresentem sintomas similares à Perturbação de Stress Pós-Traumático. Nestes casos, designa-se Perturbação Secundária de Stress Pós-Traumático, que passa por um efeito de contágio de sintomas, resultante das exigências de cuidar de alguém que viveu situações traumáticas na primeira pessoa.
Para além disso, a família é marcada por uma menor expressividade emocional e coesão, mais conflitualidade e dificuldades conjugais. Para além disso, os filhos apresentam baixa autoestima, problemas a nível escolar e dificuldade de relacionamento interpessoal. Isto deve-se ao distanciamento emocional do progenitor que sofre de Perturbação de Stress Pós-Traumático uma vez que, o filho, o percebe como rejeição, como sinal de não ser amado ou aceite.
Numa tentativa de minimizar o impacto negativo desta sintomatologia sobre a vida e sobre os outros significativos, recomenda-se que os familiares adotem uma postura pacífica perante todos os comportamentos de maior irritabilidade, dando espaço a que a calma se instale. Devem incentivar a escrita dos acontecimentos vividos e o uso de memorandos para colmatar os lapsos de memória que frequentemente acontecem. É recomendado que se negociei saídas graduais para que, a pouco-e-pouco, o ex-combatente esteja capaz de conviver e estabelecer novamente relacionamentos sociais. Não descurar a importância de procurar, continuamente, informação acerca desta perturbação para melhor ajudar e colaborar num possível tratamento psicoterapêutico que venha a ter lugar.
Também se aconselha o escrever e falar sobre os acontecimentos vividos que causaram o stres intenso. Os diálogos são considerados oportunidades para o individuo reorganizar a sua interpretação do que lhe aconteceu. É importante que neste relato se transmitam as emoções vividas para que assim se consiga uma reinterpretação positiva dos eventos stressantes.
Também se recomenda apoio psicoterapêutico. Este tem como finalidade atribuir gradualmente novos significados emocionais à experiência traumática passada. Nesta abordagem é reconstruida a memória que, estando carregada de conteúdo emocional intensificado, apresenta distorções acerca dos reais fatos vividos. Em suma, trata-se de um trabalho conjunto de associação entre os acontecimentos e o aumento de recursos possíveis para os enfrentar.
Clara Conde