É praticamente impossível sentirmo-nos plenos e inteiros quando se está sozinho, o que tudo leva a crer que o homem só se sente completo a dois, e que a realização amorosa é a mais desejada.
Tal acontece porque os relacionamentos amorosos permitem sensações e sentimentos que demonstram a nossa capacidade de viver e experimentar a nossa existência. Porém, poderão desenvolver-se aspetos de ciume doentio que atrapalham a relação.
De fato, os relacionamentos afetivos muitas vezes são construídos de forma pouco sustentável, uma vez que as pessoas atualmente têm medo de se comprometer e, quando o fazem, querem ter garantias de que nada vai ocorrer mal ao ponto de desmoronar o investimento que se dedicou à relação.
Quem sofre de ciúme doentio entende que sua vida está em constante ameaça e que não consegue encontrar recursos para se auto-fortificar e se perceber capaz e merecedora de um bom relacionamento.
Esta desconfiança sustenta-te com base numa relação prejudicada, quer seja por fatos reais que a desencadearam, quer seja por pensamentos de insegurança que invadem a mente e que apenas fazem perceber o lado negativo de uma situação. O ciúme doentio afeta a pessoa como um todo, pois reduz a sua capacidade crítica em relação às suas próprias qualidades e evidencia os pontos negativos que fazem com que a pessoa se sinta diminuída, ameaçada e, principalmente, rejeitada pelo companheiro. Tem maior prevalência nas mulheres, já que elas consideram a relação a dois como prioridade nas suas vidas.
Daqui se fala, então, de amor patológico. Carateriza-se pelo comportamento, repetitivo e sem controlo, de prestar cuidados e atenção excessivos ao parceiro, com a intenção de receber o seu afeto e evitar sentimentos pessoais de angústia e menos-valia. Esta atitude é mantida, mesmo após concretas e reiteradas evidências de que está a ser prejudicial para a sua vida e para a vida dos seus familiares.
Os critérios de diagnóstico são os seguintes:
- Sinais e sintomas de abstinência: quando o parceiro está distante (física ou emocionalmente) ou perante ameaça de abandono, podem ocorrer insónias, taquicardia, tensão muscular, alternando-se períodos de letargia e intensa atividade;
- O ato de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que o parceiro gostaria: o indivíduo costuma queixar-se de manifestar atenção ao parceiro com maior frequência ou por períodos mais longos do que pretendia inicialmente;
- Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento patológico são malsucedidas: em geral, só acorrem tentativas frustradas de diminuir ou interromper a atenção despendida ao companheiro;
- É despendido muito tempo para controlar as atividades do parceiro; a maior parte da energia e do tempo do indivíduo é gasta com atitudes e pensamentos para manter o parceiro sob controlo;
- Abandono de interesses sociais e atividades antes valorizadas: como o indivíduo passa a viver em função dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realização pessoal e profissional são deixadas de lado;
- O amor patológico é mantido, apesar dos problemas pessoais, familiares e profissionais – mesmo consciente dos danos advindos desse comportamento para a sua qualidade de vida, persiste a queixa, por parte do paciente, de não conseguir controlar tal conduta.
Uma das formas de combater estes pensamentos ou de se fortalecer para identificar as reais razões para o ciúme, está em conhecer-se a si mesmo e refletir sobre o seu autoconceito, a sua autoimagem e a sua autoestima.
E nesta procura introspetiva, vamos de encontro à infância, ao tipo de relações estabelecidas e o peso que têm nos relacionamentos atuais.
De fato, o amor adulto é uma extensão das vivências enquanto criança, na relação com o adulto que tomou conta dela durante a infância. Existem, de fato, similaridades entre a relação pai-filho e o amor romântico adulto. Daqui resultam três estilos básicos de amor: 1) o seguro; 2), o ansioso/ambivalente e 3) o evitativo.
Os indivíduos que desenvolvem o tipo de amor seguro são aqueles que tiveram as suas necessidades básicas correspondidas pelo adulto. Não se preocupam em ser abandonados pelo seu parceiro e afirmam também que o sentimento romântico cresce no decorrer do relacionamento, e às vezes, até alcança uma grande intensidade. O tipo de amor ansioso/ambivalente é desenvolvido por adultos que cresceram no meio de outros também eles ansiosos. Foram crianças que estavam inseguras de serem atendidas pelos adultos e, portanto, não os consideravam confiáveis. Ficavam cronicamente ansiosas em relação ao adulto que tomava conta deles.Estas crianças quando adultas vivem o amor com obsessão, com desejo de reciprocidade e união, com alternância de estados emocionais, com extrema atração sexual e com ciúme. Já o tipo de amor evitativo é desenvolvido por indivíduos que tiveram cuidadores rejeitantes a nível físico e emocional. Estes indivíduos, quando adultos, acreditam que o amor nunca dura por muito tempo e raramente conseguem encontrar pessoas por quem realmente se apaixonem.
Ou seja, mediante a esfera afetiva em que a criança cresceu e, depois, adulto, assim estão mais favoráveis a valorizar certos “Tipos de Amor”.
E daqui se poderão referir dois tipos - os primários e os secundários. Os primários são: o Eros (amor sensual), o Estorge (amor amigo) e o Ludos (amor lúdico). Os secundários são combinações dos primários, e os mais estudados são: o Mania (amor obsessivo e apaixonado) o Pragma (amor consciente) e o Ágape (amor altruísta).
O amor Eros sente atração imediata pelo parceiro e essa atração é causada principalmente pela aparência do parceiro. Nesse estilo de amor pode haver amor à primeira vista, grande atração física e interesse sexual, é seguro, não é muito possessivo, não teme entregar-se ao amor, mas também não está ansioso para amar. Para o estilo denominado Estorge, o amor nasce de uma amizade e demora muito tempo a desenvolver-se. Este tipo de amor é baseado em interesses compartilhados e nas semelhanças entre parceiros. As atividades em conjunto são importantes, o contato sexual é menos enfatizado e começa relativamente mais tarde. Esse estilo de amor não se caracteriza pela presença de uma grande paixão. No estilo Ludos o amor é encarado como um jogo que acontece simultaneamente com diferentes parceiros, as emoções não são levadas muito a sério, a ênfase recai na sedução e na ideia de liberdade sexual. As promessas são válidas apenas no momento que são apresentadas, e não no futuro. Para o estilo Mania (composto de Eros e Ludos), o amor é experimentado como uma emoção quase obsessiva e preocupante que domina praticamente tudo. O amante que se enquadra neste estilo esforça-se para atrair, quase continuamente, a atenção do parceiro. Há ciúme e muita possessividade. No estilo Pragma (composto de Ludos e Estorge), a compatibilidade dos parceiros e as suas necessidades mútuas de satisfação são enfatizadas. Neste estilo de amor as pessoas examinam os pretendentes para ver se atendem a uma série de expectativas antes de se envolver com eles. Para o estilo Ágape (composto de Estorge e Eros), os cuidados com o parceiro e a preocupação em auxiliá-lo a resolver os seus problemas são centrais. A ausência de egoísmo é uma das características centrais desse tipo de amor.
No entanto, de uma forma mais ou menos genérica, todos somos afetados pela beleza física do parceiro (Eros), pela apreciação da sua amizade (Estorge), a atração sentida por outras pessoas (Ludos), uma certa dose de insegurança quanto à firmeza do relacionamento (Mania), a importância do lado prático do relacionamento (Pragma) e a disposição a fazer sacrifícios pelo parceiro (Ágape).
Ainda assim, valoriza-se de forma diversificada cada componente que qualifica o que é o Amor:
Ou seja, o amor pode ser dividido em três componentes básicos.São eles: a intimidade, a paixão e a decisão/comprometimento. A intimidade refere-se a um sentimento de união. Alguns dos sinais de intimidade no relacionamento são desejar proporcionar o bem-estar do parceiro, vivenciar felicidade com ele, tê-lo em alta consideração, ser capaz de contar com ele em momentos de necessidade, ter entendimento mútuo, receber e dar suporte emocional. A componente da paixão consiste na energia que leva ao romance, a atração física e a consumação sexual num relacionamento amoroso. As necessidades sexuais são a parte principal da paixão em muitos relacionamentos, mas outros necessitam de autoestima, aceitação, dominância sobre o outro, submissão do outro, que também contribuem para a experiência da paixão. Já o componente decisão/comprometimento tem dois aspetos - decisão de amar alguém e o comprometimento de manter esse amor.
Clara Conde