A obesidade pertence ao domínio dos transtornos alimentares, estimando-se a sua frequência a rondar os 5 a 35 por cento, dependendo da população tida em conta. Isto porque os transtornos alimentares, apesar de terem a sua razão de ser numa multiplicidade de fatores de diversa índole, os socioculturais estão na raiz de todos eles. Parece evidente que a sociedade impõe normas estéticas bem definidas dentro de um padrão e que esse padrão é precisamente o contrário da norma, ou seja, a sociedade valoriza o que não tem: nos momentos de maior escassez, a opulência, e com a maior abundância presente na atualidade, a magreza. Este padrão estético elegido e bem delimitado é criado e é mantido pelos meios de comunicação de massas.
No que toca à obesidade, também tem como antecedentes fatores sociais. Hoje em dia a maioria das pessoas come mais do que o seu organismo necessita, devido à abundância e à variedade de alimentos presentes nas sociedades desenvolvidas, além de um estilo de vida sedentário, motivado pelos consideráveis avanços da tecnologia. Além disso demonstrou-se que as pessoas obesas são mais influenciáveis perante a estimulação externa, o que conduz à manutenção da sua sobre ingestão.
Este transtorno tem lugar quando são mais as calorias ingeridas pelo sujeito que as gastas e com realização insuficiente de atividade física. Muitos casos de obesidade devem-se a causas genéticas, ao estilo de vida próprio das sociedades desenvolvidas ou em vias de desenvolvimento, ou a eventos stressantes que motivam o incremento da ingestão, observando-se sobretudo em pessoas com tendência para a obesidade. Este aumento provoca insatisfação com a própria imagem corporal, pelo que se dá um progressivo isolamento social, o início de um regime produz mais ansiedade, irritabilidade e nervosismo. Desta forma, deparamo-nos com um dilema: ou se abandona o regime, com o consequente empobrecimento da saúde do paciente, do seu estado anímico e das suas relações sociais, ou mantém-se uma dieta que causa irritabilidade, mais ansiedade e problemas associados, se não se realizar com a ajuda de um especialista.
No quadro sintomatológico encontra-se a baixa autoestima, insatisfação severa com a imagem corporal, sentimentos de culpa, perda de interesse social e sexual, centramento na própria problemática e pensamentos negativos acerca de si mesmo e do seu futuro.
A intervenção psicoterapêutica sobre a obesidade centra-se fundamentalmente em iniciar-se uma dieta hipocalórica e criar hábitos saudáveis de atividade física, sendo que é fundamental manter a perda de peso a médio e longo prazo; tal tem de ser realizado com a ajuda de uma equipa multidisciplinar e um correto seguimento a fim de que as mudanças se mantenham no tempo, se bem que é especialmente difícil quando os benefícios destas mudanças na vida do sujeito se dão gradualmente, a médio ou a longo prazo. Portanto, falar do tratamento da obesidade significa falar de adesão ao tratamento.
Para aumentar esta adesão deve-se contemplar variáveis como consciência do problema, motivação para a mudança, atitudes face à dieta e ao exercício físico, expetativas sobre os resultados, perceções sobre a sua imagem corporal, grau de adesão a possíveis tratamentos prévios, dificuldade percebida, apoio social, e trabalhar aquelas crenças erróneas e auto verbalizações que se associam ao fracasso.
Na hora de instaurar os novos hábitos no paciente devemos fazê-lo de forma paulatina e sempre submetendo ao ritmo de mudança do sujeito, pois se o fazemos de forma demasiado lenta, os resultados não serão percetíveis e o paciente terá mais probabilidade de desanimar e abandonar o tratamento, no entanto se o fazemos demasiado rápido, corremos o risco que o paciente se torne totalmente reticente, gere ansiedade perante a mudança no seu estilo de vida, desanime perante as metas tão altas e abandone o tratamento.
A um nível psicoterapêutico, tem-se como objetivo aceitar o transtorno, motivar para a mudança, reduzir a insatisfação com a imagem corporal, conseguindo que a paciente se liberte dos pensamentos erróneos sobre esta e que deixe de experimentar ansiedade naquelas situações e com aqueles estímulos relacionados com o seu corpo. É importante melhorar o funcionamento social e as relações interpessoais do paciente, bem como técnicas de resolução dos problemas, o que ajudará a médio e longo prazo a manter uma conduta alimentar normalizada, e assim, prevenir recaídas.
Clara Conde