Quando as temperaturas começam a baixar e o dia escurece mais cedo, é natural que haja uma maior tendência para ficar em casa, uma espécie de preguiça que convida a comer mais e dormir mais. Trata-se de uma reação natural, no entanto, há pessoas que reagem de uma forma mais radical à alternância das estações, com a chegada do Inverno a dar lugar a uma letargia e fadiga excessivos, a alterações do humor, a sentimentos e comportamentos depressivos. São pessoas que sofrem de depressão sazonal, também designada como desordem afetiva sazonal. E tudo porque as noites são mais longas e os dias mais curtos e cinzentos: o que está em causa é o menor número de horas de luz e a qualidade da mesma.
A luz influencia o nosso relógio biológico, interferindo nos ciclos de vigília e sono mas também no humor. Tudo indica que a baixa luminosidade causa uma quebra na produção de serotonina, um químico natural do cérebro que afeta o humor: quanto menos serotonina, maior a tendência para a tristeza e a depressão; pelo contrário, níveis acrescidos deste neurotransmissor aumentam o estado de satisfação - é por isso que é chamada a hormona da felicidade.
Por outro lado, a luz também tem influência sobre a melatonina, uma hormona associada ao sono e que é produzida durante a noite: ora, durante o Inverno, as noites são maiores do que os dias, o que faz disparar os níveis de melatonina e, com eles, a sensação de fadiga e de falta de energia.
Não se conhecem as causas da depressão sazonal, mas o conhecimento dos mecanismos da influência da luz sobre a melatonina e a serotonina permite concluir que a depressão sazonal é mais um processo biológico do que psicológico ou psiquiátrico.
A idade também parece desempenhar o seu papel, na medida em que este é um problema mais comum a partir dos 25 anos, sendo muito raro abaixo dos 20. É também mais frequente entre o sexo feminino, embora no masculino os sintomas possam ser mais acentuados.
Os sintomas mais habituais são a fadiga permanente, já que o sono não cumpre o seu papel repousante, passando-se o dia num estado generalizado de sonolência. Também o apetite sofre alterações, sendo frequentes os desejos de açúcares, o que acaba por conduzir a ganhos de peso. A perda de energia é comum, acompanhada de dificuldades de concentração e processamento da informação. A ansiedade e a tristeza dominam, com progressiva perda de interesse pelas atividades que outrora davam prazer, e com tendência para o isolamento social. As oscilações de humor passam pela irritabilidade, apatia, baixa autoestima, angústia, ataques de choro, sentimento de culpa e ansiedade.
A diferença básica entre o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) e a Depressão Major é que esta última não precisa de uma época do ano específica para se manifestar e não desaparece com as mudanças de estação. A depressão, em termos gerais, provoca uma distorção na visão de mundo e na visão que a pessoa tem de si mesma, pois os aspetos negativos passam a ter mais importância que os positivos, como se a pessoa percecionasse as coisas ao seu redor em tons de cinza. Também se verificam sentimentos de desesperança e abatimento e, quando a pessoa nega a existência desses sentimentos, eles aparecem de outras maneiras, como dores no corpo, que não possuem causas médicas que as justifiquem, ou sentimentos de raiva.
Além do possível tratamento de fototerapia, aconselha-se, como em qualquer quadro depressivo, o acompanhamento psicoterapêutico para delimitar até que ponto os sintomas depressivos se devem ao mero ambiente externo de privação de luz ou se estão subjacentes demais dificuldades do foro psicológico desencadeadoras do mal-estar interno.
Clara Conde