As festas de fim de ano ou datas comemorativas caracterizadas por compras fazem com que todos nós gastemos mais do que planeado. Todos sofremos com compras compulsivas nesta época. Contudo, um comprador compulsivo apresenta diversos períodos destes por ano. Assim sendo, o transtorno de compra compulsivo, ou oniomania, carateriza-se por um excesso de preocupações e desejos relacionados com a aquisição de objetos e, por um comportamento caraterizado pela incapacidade de controlar compras e gastos financeiros.
Trata-se de um problema psicológico moderno, uma vez que vivemos numa sociedade materialista, marcada pelo estímulo ao consumo e pela facilitação ao crédito.
Manifesta-se predominantemente no sexo feminino, aos 18 anos de idade, quando se obtém maior autonomia relativamente aos pais, mas a perceção do comportamento de compras como um problema ocorre mais tarde, por volta dos 30 anos. Os objetos preferidos entre as mulheres são roupas, malas, sapatos, perfumes, maquilhagem e joias.
É pois, a impulsividade, o fator essencial do comportamento, apesar das boas capacidades intelectuais dos seus portadores. De fato, verifica-se uma dificuldade em interromper os comportamentos de compra, obtendo-se consequências danosas.
Os critérios de diagnóstico para o transtorno do comprar compulsivo são:
1) Preocupações, impulsos ou comportamentos mal adaptativos envolvendo compras;
2) Impulso irresistível de comprar, intrusivo ou sem sentido;
3) Comprar mais do que pode, comprar material desnecessário ou comprar por mais tempo do que o pretendido;
4) A preocupação com compras, os impulsos ou o ato de comprar, causam sofrimento marcante, consomem tempo significativo e interferem no funcionamento social e ocupacional ou resultam em problemas financeiros;
5) As compras compulsivas não ocorrem exclusivamente durante episódios de hipomania ou mania.
O diagnóstico, no entanto, não se baseia na quantia de dinheiro gasto em compras, mas sim em como o dinheiro é gasto e na angústia causada por tal comportamento. A maior parte das compras é feita para uso pessoal, porém também é frequente que esses pacientes presenteiem amigos e parentes a fim de compensar o sentimento de culpa ou para “comprar” a cumplicidade dos familiares.
Este transtorno, deste modo, causa graves prejuízos pessoais, financeiros e familiares. Ocorre em pessoas com impulsividade elevada, baixa autoestima, vulnerabilidade a emoções negativas e suscetibilidade à influência sociocultural. O ato de comprar é vivido pelos pacientes como alívio para as emoções negativas. O indivíduo sente um desejo irresistível de comprar; compra geralmente quantidades exageradas ou materiais desnecessários; gasta mais do que o pretendido; utiliza cartão de crédito, cheques pré-datados ou sem fundos, fazendo diversas compras parceladas sem se dar conta do valor mensal total, ultrapassando a sua receita e contraindo dívidas.
Após a compra, que tinha como função a procura de prazer e alívio, o indivíduo passa a sentir-se culpado por não ter conseguido manter o controlo. Ou seja, a aquisição de bens materiais representa um conforto efémero e não resolve as angústias, as frustrações e muito menos a baixa autoestima. A pessoa apercebe-se da inadequação do seu comportamento e tende a esconder dos familiares e amigos os seus gastos.
As dificuldades de reconhecimento da problemática são agravadas também pelo fato de o comprar ser incentivado e valorizado na sociedade de consumo. Assim, a pessoa quando volta a ter uma sensação desagradável, compra novamente, contrai dívidas, angustia-se por isso e compra mais uma vez, a fim de lidar com as emoções causadas pela compra. A emoção supera a razão, impedindo o comprador de refletir sobre outras formas de lidar com os sentimentos, sobre a real necessidade do objeto adquirido e sobre o que está a motivar a compra.
Do exposto é importante que este tipo de problemática seja tratada através de psicoterapia, já que o cerne que leva à compra é a falta de recursos para lidar com situações stressoras e angustiantes, sendo um refúgio simples que aumenta o evitamento de estratégias de confronto com as situações, de modo a serem resolvidas adaptativamente. Assim, num processo terapêutico, são detetadas as situações problema, as emoções resultantes, novas estratégias para lidar com elas e, além disso, aumentada a autoestima e o controlo dos impulsos de modo a que as decisões sejam devidamente ponderadas antes de um ato irrefletido. Assim obtém-se o controlo da própria vida, uma maior segurança interna e mais ponderação, essenciais para lidar com as demandas exteriores de uma sociedade de consumo materialista.
Clara Conde