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Neuroeducação

 

A relação das crianças com os adultos com quem se relacionam causa um grande impacto no desenvolvimento do seu cérebro desde a etapa pré-natal. O adulto cuidador serve de “cérebro externo”, motivando e apoiando o bebé. As experiências, desde a relação direta criança e adulto, são vitais para a integração sensorial, a coordenação sensoriomotora, o desenvolvimento emocional, os processos de atenção e também de autorregulação.

Por isso é necessário repensar alguns aspetos da formação daqueles que estão direta ou indiretamente relacionados com as crianças. Neste sentido, surgiu uma nova linha de pensamento e ação, a Neuroeducação, em que confluem as Neurociências, a Psicologia e a Educação. O seu objetivo principal é trazer aos pais e educadores os conhecimentos relacionados com o funcionamento do cérebro. A prática de determinadas habilidades modifica os circuitos cerebrais, fazendo com que novas conexões sinápticas se estabeleçam ou que se reforcem as existentes. As alterações precoces no desenvolvimento cerebral limitam de forma dramática a capacidade da criança fazer frente às novas situações e adaptar-se às mudanças de maneira flexível.

É, pois, de vital importância orientar as mulheres grávidas sobre o desenvolvimento cerebral do seu bebé na etapa pré-natal, já que o seu estado de saúde e também o seu bem-estar emocional influem neste processo. As ações de muitos fármacos e toxinas comprometem a formação e organização de um sistema nervoso normal. Por outro lado, a insuficiência ou o excesso de nutrientes elementares durante os primeiros meses de vida intrauterina diminui significativamente a consolidação de estruturas nervosas no feto, enquanto que uma nutrição adequada na vida inicial do desenvolvimento pós-natal permite o fortalecimento dos processos de aprendizagem em etapas posteriores.

Depois do nascimento, as experiências do dia-a-dia do bebé desempenharão um papel importante no desenvolvimento do seu cérebro. Isto significa que se nesta etapa o bebé está exposto a uma privação emocional, ocorrerão fenómenos de morte neuronal no plano cerebral, incidindo numa maior vulnerabilidade ao stress e na diminuição da resposta imunológica do bebé. Neste sentido, as canções de embalar, as conversas da mãe com o bebé, o seu tom e timbre de voz desde os momentos iniciais de vida ajudarão o bebé a produzir e descodificar os sons da fala que irão constituir a base da linguagem.

Por sua vez, o que aprendemos desde os primeiros meses de vida é retido e armazenado no nosso cérebro graças à memória. Já as áreas do sistema nervoso relacionadas com o movimento são as primeiras a se consolidarem, logo o bebé necessita de oportunidades para descobrir e utilizar o seu corpo, tais como gatinhar, abrir e fechar objetos, arrastar-se, agarrar, segurar, soltar.

O papel do afeto é fundamental nesta etapa inicial para o amadurecimento neurobiológico e o desenvolvimento emocional, motor e cognitivo das crianças. O vínculo afetivo permite ao bebé adaptar-se ao mundo, regular a sua ansiedade, confiar em si mesmo, procurar a sua autonomia e, principalmente, regular o funcionamento de todas as estruturas cerebrais relacionadas com as emoções e o comportamento.

Assim, a educação na primeira infância (0-8 anos de idade) exerce uma ação determinante por estar a atuar sobre estruturas que estão em plena fase de amadurecimento e desenvolvimento. Experiências desfavoráveis durante este período – violência familiar, negligência, abuso, maltrato e depressão dos pais, afetam de maneira traumática uma criança, o que exerce uma forte influência na sua saúde mental ou provocar atraso no desenvolvimento do seu cérebro. Contudo é erróneo dizer que o que não se aprende nesta época esta condenado a que não se aprenda nunca. Ainda assim, algumas condições são necessárias para um ótimo desenvolvimento cerebral. Por exemplo, o vínculo afetivo com o adulto é essencial nos três primeiros anos de vida. É a base do desenvolvimento emocional da criança e também da sua autorregulação, permitindo criar autoconfiança, empatia, habilidades sociais e habilidades cognitivas.

 

Reflexões provenientes da voz de um adulto:

  1. Todas as crianças nascem com direitos e é direito de cada uma delas ser atendida por pessoas que compreendam o funcionamento e as potencialidades do seu cérebro.
  2. O processo de desenvolvimento cerebral começa três semanas depois da conceção: tudo o que ocorre na etapa pré-natal pode modificar esse processo.
  3. Conhecer a primeira infância transformará a natureza da atenção, cuidado e educação dispensados à criança pela família ou por outras instituições.
  4. Todas as crianças têm direito de ter acesso a programas de atenção, cuidado e educação de qualidade em igualdade de condições.
  5. Educação de qualidade é igual a um desenvolvimento infantil de qualidade.
  6. O desenvolvimento do ser humano começa no ventre materno e é fruto de uma relação harmoniosa entre genética e experiências do meio.
  7. As carências nutricionais da mãe têm consequências severas pra o desenvolvimento do seu filho.
  8. Uma boa nutrição é a chave para um bom desenvolvimento intelectual.
  9. As experiências individuais de cada criança afetarão a qualidade do desenvolvimento das potencialidades do seu cérebro.
  10. As habilidades intelectuais, emocionais, físicas, sociais e percetivas desenvolvem-se nos primeiros anos de vida e são fruto de um cérebro em pleno processo de desenvolvimento.

 

Reflexões provenientes da voz de uma criança:

  1. Mãe, eu sinto o que sentes.
  2. Mãe, o que consomes durante a gravidez é o que me alimenta.
  3. As experiências que tenho durante os três anos da minha vida afetam o desenvolvimento do meu cérebro.
  4. As experiências que vivo na minha infância serão decisivas para a minha vida adulta e para o meu rendimento escolar.
  5. O seu conhecimento sobre o funcionamento do meu cérebro, ajudará no meu desenvolvimento integral.
  6. O meu cérebro está a desenvolver-se, não me peça o que não estou pronto para fazer.
  7. Conversa comigo, canta-me canções, lê belas histórias… eu posso escutar-te.
  8. Se os meus pais têm uma vida saudável, maior é a possibilidade de que eu tenha um desenvolvimento saudável.
  9. Se a minha mãe não tem uma boa nutrição, o meu desenvolvimento não será o melhor.
  10. Conta-me um conto: o cérebro que escuta é o cérebro que fala, lê e compreende.
  11. Deixa-me dormir, o sono é um fator importante para o desenvolvimento do meu cérebro.
  12. A primeira infância marca o período mais significativo do meu crescimento e desenvolvimento: investe carinho, afeto e comunique comigo.
  13. Queres que eu cresça saudável? Proporciona-me experiências positivas e significativas no meu meio.
  14. Permite-me desfrutar da minha infância: somente a viverei uma vez.
  15. O que eu vivenciar na minha primeira infância deixará sequelas por toda a vida. Existem sequelas e cicatrizes que não são vistas; estas são resultado das minhas experiências emocionais e afetivas. Cuida de mim para que eu não as tenha.
  16. Eu aprendo por imitação: sê um bom exemplo para mim.
  17. O leite materno é o melhor alimento para mim (bebé).
  18. Para evitar consequências irreversíveis, alimenta-me bem agora.
  19. O que acontece na minha comunidade afeta o meu desenvolvimento.
  20. Aprender é um jogo divertido. Dá-me mais oportunidades para fazê-lo.

 

Clara Conde