A depressão Infantil foi e ainda é, nos tempos que correm, desacreditada como diagnóstico psicológico/psiquiátrico. Tal acontece pelo fato das estruturas da personalidade da criança não estarem maduras o suficiente, logo, julga-se impossível a vivência de variações extremas de humor. Mais recentemente, nos anos 60, estudos têm fornecido dados que apontam que o fenómeno da depressão infantil é muito mais frequente do que se possa imaginar. De fato, cerca de cinco por cento (5%) das crianças e adolescentes da população geral possuem um grau significativo de depressão.
Apesar da literatura comprovar a existência da depressão infantil, e de se tratar de um transtorno com caraterísticas distintas da depressão de adulto em muitos aspetos, a mesma não é diferenciada nos critérios atuais de diagnóstico.
Ainda assim, propomos uma definição da depressão Infantil, como uma perturbação psicológica associada a algum aspeto comprometido da personalidade, tal como baixa autoestima e autoconfiança.
Os principais comportamentos que caracterizam a depressão infantil são: 1) o humor disfórico (tristeza, frustração, medos), 2) a autodepreciação, 3) hiperatividade, agressividade e irritabilidade, 4) os distúrbios do sono, 5) baixo rendimento escolar, 6) a diminuição da socialização, 7) a modificação da atitude em relação à escola, 8) a perda da energia habitual, do apetite e/ou peso.
Também estão associados sintomas somáticos como dores de cabeça, vómitos, enurese/encoprese, dores de barriga e diarreia, além de condutas socialmente menos adequadas.
No entanto, há que referir que os sintomas da depressão na infância variam de acordo com a idade. Até os 7 anos, as crianças não apresentam competências verbais para expressar os seus sentimentos, dificultando o diagnóstico de sintomas depressivos, sendo necessário levar em conta a comunicação não-verbal, a expressão facial, os desenhos e a postura corporal.
Deste modo, grande parte do comportamento depressivo na infância manifesta-se no contexto educacional, sendo o baixo rendimento escolar um dos primeiros sinais do surgimento de um possível quadro depressivo.
Quanto mais problemas de comportamento a criança apresentar, maior será a probabilidade de um desenvolvimento atípico, visto que a depressão interfere nas atividades associadas à cognição e à emoção. A deteção precoce de sintomas depressivos em crianças e adolescentes evita que venham a desenvolver quadros graves, com prejuízos no convívio social e no ambiente escolar e familiar.
Também deve ser ressaltada a importância do diagnóstico na família da criança, numa primeira instância, visto que a depressão acarreta problemas no seu repertório comportamental, variando desde extrema irritabilidade à obediência excessiva, ocorrendo ainda uma instabilidade significativa em relação a esses comportamentos.
Segundo os familiares destas crianças gera-se, inicialmente, uma incompreensão sobre o que se está a passar com elas. Não têm a perceção clara sobre o problema, sendo assim adiada a procura de ajuda profissional, a identificação da problemática e também a aceitação de que uma criança pode ficar deprimida. Os traços que apontavam para a doença só são percebidos quando passam a compor um quadro de atitudes e comportamentos estranhos o suficiente para serem destacados pelos outros e frequentes a ponto de chamar a atenção dos adultos.
Desta forma os comportamentos infantis e as próprias crianças passam a ser incorporados aos problemas que, de fato, incomodam os adultos. Estabelece-se assim uma relação evidente entre o grau de tolerância ou de intolerância a esses comportamentos e as condições gerais de vida da família. Deste modo separações, zangas, mortes, alcoolismo e questões socioeconómicas, em especial, desemprego e baixos salários, são fatores que alteram a dinâmica familiar, afetando as crianças.
Assim, estando a família ciente dos problemas que antecedem e promovem a sintomatologia depressiva, por um lado, e as consequências que a depressão acarreta nas crianças, por outro (principalmente ao nível do desenvolvimento cognitivo e emocional), deve-se iniciar um tratamento precoce, evitando, dessa maneira, maiores prejuízos. É, pois, importante a procura de um psicólogo competente, nomeadamente com formação em ludoterapia, diante da suspeita de depressão, pois, se confirmado o diagnóstico, o mesmo está relacionado com problemas emocionais graves, que necessitam de um tratamento mais complexo.
Com a intervenção profissional consegue-se a diminuição do sofrimento infantil, aumentando a capacidade adaptativa e proporcionando o ajuste socio-emocional destas crianças.
Clara Conde