O Distúrbio do Défice de Atenção (DDA) é caraterizado por um trio de sintomas – alterações da atenção, impulsividade e velocidade da atividade física e mental.
A alteração da atenção é condição sine qua non para se efetuar o diagnóstico. Uma pessoa com comportamento DDA pode ou não apresentar hiperatividade física, mas nunca deixará de apresentar forte tendência para a dispersão. O próprio DDA irrita-se com os seus lapsos de dispersão, pois geram problemas de relacionamento interpessoal, grande dificuldade de organização em todos os setores da vida. Daí que, além disso, surjam períodos de profundo cansaço mental e, por vezes, físico. Tal acontece porque o seu cérebro está envolvido numa tempestade de pensamentos que se sucedem incessantemente, dificultando a canalização dos seus esforços na realização de trabalhos com metas e prazos preestabelecidos. Porém, poderão apresentar-se hiperconcentrados em determinados assuntos ou atividades que lhes despertem interesse espontâneo ou paixão impulsiva, sendo que daqui surge a dificuldade em se desligarem ou desviarem a sua atenção para outras atividades.
Já a impulsividade provém do ímpeto despertado por pequenas coisas que geram grandes emoções e a força dessas emoções leva à compulsão por realizar certas ações. A impulsividade pode manifestar-se sob a forma de agressividade, descontrolo alimentar, uso de drogas, gastos excessivos, jogos, falar incontrolavelmente, etc. Pode-se imaginar quanto sofrimento, culpa, angústia e cansaço um impulso sem filtro pode causar nos relacionamentos quotidianos de uma dessas pessoas. Assim é que, todo o DDA, na vida adulta, apresentará problemas com a sua autoestima, e este é o maior de todos os desafios do seu tratamento: a reconstrução dessa função psíquica que, em última análise, constitui o espelho da própria personalidade. Porém, estas pessoas têm um profundo amor à vida, tanto que passam a maior parte do seu tempo em busca de emoções, aventuras, projetos, amores, tudo para viver mais intensamente.
Já a hiperatividade física e mental indica, não só agitação motora, não conseguir estar quieto, roer as unhas, mexer o tempo todo no cabelo, procurar sempre manter as mãos ocupadas, como também mudar de assunto antes que o outro responda, interrompe-lo, não dormir à noite, sonhar acordado e ter uma imaginação fértil e incessante.
Portanto, são frequentes a desorganização, os esquecimentos, a sensação de serem ET’s sem capacidade de se adaptar aos horários a cumprir, às tarefas meticulosas, aos prazos, às obrigações, aos filhos, etc. Daqui se gera uma intensa ansiedade e depressão, não só pela condenação dos outros, como pelo próprio desconforto e prejuízo.
Para se diagnosticar DDA em crianças, são necessárias algumas condições: 1) Com frequência, mexe ou sacode pés e mãos, remexe-se no assento, levanta-se da cadeira; 2) É facilmente distraída por estímulos externos; 3) Tem dificuldade em esperar pela sua vez nas brincadeiras ou em situações de grupo; 4) Dispara respostas para perguntas que ainda não foram completadas; 5) Tem dificuldade em seguir instruções e ordens; 6) Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou mesmo atividades lúdicas; 7) Muda de uma atividade inacabada para outra; 8) Tem dificuldade em brincar em silêncio ou tranquilamente; 9) Às vezes fala excessivamente; 10) Perde itens necessários para tarefas ou atividades escolares.
Além disso, é habitual sentirem-se atoladas e ansiosas com as exigências da vida escolar. Manifestam, pois dificuldades em completar as suas tarefas e mesmo que lutem por prestar atenção, as suas mentes escorregadias acabam por ficar silenciosamente à deriva em terras distantes, paragens de sonho, recordações de acontecimentos, antecipações do que está para vir. Assim poderá ser erroneamente considerada menos inteligente do que é na verdade.
Contudo, há que distinguir entre crianças problemáticas e crianças com DDA. Os sintomas de comportamento DDA não dependem de problemas emocionais, ambientais e sociais, nem educativos, em que a disciplina e contenção não são valorizadas. O DDA é um funcionamento de origem biológica, marcado pela hereditariedade, que irá manifestar-se no comportamento infantil muito cedo, antes dos sete anos de idade, sendo ou não oriunda de um ambiente hostil e esteja ou não a passar por problemas. Mesmo no lar mais estruturado e seguro, uma criança DDA irá comportar-se como tal. Não se trata de a criança DDA ser mal-educada, imatura ou pouco dotada intelectualmente, mas porque a sua área cerebral responsável pelo controlo dos impulsos e filtragem de estímulos, o córtex pré-frontal, não é tão eficiente.
As constantes reprimendas de pais e educadores descrevem um enorme rombo na autoestima que ouvem diariamente rótulos que lhe são atribuídos e dos quais não sabem defender-se. Estas crianças acabam mesmo por acreditar em tudo o que se diz delas, sob a forma do olhar desaprovador da reprimenda ou do ar complacente do sentimento de pena.
Estas crianças chegam à adolescência e à idade adulta quase sempre a recriminar-se a cada passo, cada atitude, pensamento e declaração fora do padrão imposto. Se conseguir libertar-se de todo o peso e ressentimento que desenvolveu ao longo de anos de recriminações, e também tornar-se menos sensível a críticas, então poderá trilhar o seu caminho sem culpas e sem angústias, por um atalho que poderia ter seguido, desde cedo e sem muito sofrimento, se pudesse descobrir os seus talentos naturais e desenvolvê-los, e não adequar-se a um limitado padrão, no qual muito dificilmente iria caber sem desconforto.
O que pode ser feito?
1) Os pais e os educadores devem obter conhecimento sobre a DDA. Afinal, conhecer profundamente o problema os capacitará a verem o mundo através dos olhos dos seus filhos/educandos. Assim irão controlar os seus próprios acessos de raiva em relação à criança.
2) Saber diferenciar desobediência e inabilidade. Uma criança DDA não consegue controlar os seus impulsos e fazer o que os responsáveis pedem. Ou seja, precisa ser ajudada a desenvolver essas habilidades e ser recompensada por cada pequeno passo que conseguir dar.
3) Dar ordens positivas. Ignorar os comportamentos indesejados e destacar o comportamento desejado. Uma vez que se tenha estabelecido o que se pretende da criança e lhe tenha sido dito sob a forma de instrução positiva, é extremamente importante que a recompense imediatamente após fazer o que se quer. As recompensas sociais são as mais adequadas (elogios, beijos, dizer o quanto ela o deixa feliz, etc.). É importante festejar cada degrau que conseguir subir, estimulando-a a ir adiante. Mais tarde, as recompensas pelos bons comportamentos poderão ser espaçadas. Com o tempo começará a interiorizar os comportamentos adequados e não precisará de os reforçar sempre e imediatamente.
4) Promover o sucesso da criança. Trata-se de abandonar o padrão antigo de valorizar mais as atitudes negativas da criança e mudar para o padrão de incentivar, reforçar e promover sempre o sucesso da criança. Ela vai-se esforçar por agradar aos pais/educadores, e aos poucos recuperará a sua autoconfiança ou construirá a que nunca teve.
Clara Conde