Criar uma Loja Virtual Grátis
Gravidez na Adolescência

Portugal é o segundo país da Europa Ocidental a registar maior número de grávidas adolescentes, muito embora na última década se verifique um decréscimo. Todos os dias doze adolescentes dão à luz em Portugal! Assim sendo, a gravidez neste grupo populacional, é considerada, em alguns países, um problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e económicos.

Tal constatação é agravada pelo fato de que a adolescência constitui uma fase de desenvolvimento, compreendida entre os 10 e os 19 anos, caracterizada por profundas transformações a nível físico, psicológico, afetivo, social e familiar. A progressiva maturação fisiológica, o surgimento das características sexuais secundárias, a consciencialização da sexualidade, a estruturação da personalidade, a adaptação ambiental e a integração social são normalmente acompanhadas pela súbita descoberta de novas relações e experiências, de ordem afetiva e sexual, muitas vezes geradoras de intensos conflitos. Estes sentimentos devem-se frequentemente a uma desarmonia entre o desenvolvimento corporal, sexual e intelectual e a aquisição de maturidade emocional.

Esta fase também se carateriza por uma preocupação excessiva com a imagem corporal e, no estabelecimento de relações cada vez mais projetadas para o exterior da família, a adolescente manifesta importantes carências informativas relativamente à sexualidade, contraceção e risco de gravidez.

Daí ser importante o papel do parceiro já que é, também ele, fundamental para a boa evolução da gestação, dando apoio à sua parceira e diminuindo os riscos de complicações psicológicas. Apesar de que muitos deles são também adolescentes e mostram-se igualmente inseguros perante a nova situação. Diante disso, deve-se estimular a sua participação no pré-natal, além de se fomentar a participação em projetos e programas que visam a abordagem do tema, principalmente no que diz respeito a sua prevenção, viabilizando publicações a esse respeito. Logo, é importante que se ceda informação acerca dos direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes, contribuindo desta forma para a redução da incidência do aborto e a reincidência da gravidez nesta faixa etária. Para tal, recomenda-se a iniciação do planeamento familiar logo após a primeira gravidez. Desta forma evitam-se as repercussões negativas sobre os afetos gerados na relação mãe/pai-filho e principalmente, sobre as perspetivas de vida futura de ambos.

De fato, têm sido citados efeitos negativos na qualidade de vida das jovens que engravidam, com prejuízo no seu crescimento pessoal e profissional. Existem evidências de abandono escolar, por pressão da família, pelo fato da adolescente sentir vergonha da gravidez. Considerando-se que, a gestação na adolescência, resulta em abandono escolar e que, o retorno aos estudos se dá em menores proporções, torna-se difícil a profissionalização e o ingresso no grupo de população economicamente ativa, com agravamento das condições de vida de pessoas já em situação económica desfavorável.

E daqui é importante referir quais os fatores de risco que possibilitam o aumento de casos de gravidez na adolescência. Advém assim da iniciação sexual cada vez mais precoce, conjugado com a permissão para manter relações sexuais dentro da própria casa. Em 1997, a média de idade da primeira relação sexual entre os rapazes era de 16 anos e entre as raparigas de 19 anos. Em 2001, essa média baixou para 14 e 15 anos, respetivamente.

Outras características são associadas à maternidade na adolescência, como o abandono escolar, o baixo nível de escolaridade da adolescente, companheiro e família, a ausência de planos futuros, e a repetição de modelo familiar (mãe também adolescente). Além disso, a baixa autoestima, o abuso de álcool e drogas, o uso inadequado da contraceção, a comunicação familiar escassa, os conflitos familiares, uma figura parental ausente e rejeitadora, a violência física, psicológica e sexual, predispõem a jovem para medidas não preventivas da gravidez.

E quando esta é detetada surgem, normalmente, complicações, tais como a anemia, as infeções, o parto prematuro e perturbações emocionais, bem como as consequências associadas à decisão de abortar.

No entanto, em certos casos, a gravidez é bem tolerada pelas adolescentes, desde que elas recebam assistência pré-natal adequada, ou seja, precocemente e de forma regular, durante todo o período de gravidez, o que nem sempre acontece, devido a vários fatores, que vão desde a dificuldade de reconhecimento e aceitação da gestação pela jovem até a dificuldade para o agendamento da consulta inicial do pré-natal.

Deste modo, recomenda-se que ao longo da gestação, desde a sua confirmação até ao período pós-parto, se inicie um acompanhamento psicoterapêutico ajustado de modo a possibilitar a melhoria da autoestima destas jovens mães, na criação de uma projeção da realidade futura, no desenvolvimento de recursos para lidar com as novas situações desafiadoras e para serem resolvidos os conflitos passados que propiciaram a atual situação. Desta forma consegue-se o sucesso esperado na criação do seu filho, por si só, exigente mas também extremamente gratificante.                                                                                                                              

                                                                                                                                                Clara Conde