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Automutilação

Caso Clínico: Paciente masculino, de 15 anos, estudante que se iniciou a se cortar há alguns meses. Quando se cortou pela primeira vez estava a sentir raiva, estava angustiado e começou a raspar o braço. Refere que os colegas não sabem que ele se corta, pois sempre usa mangas compridas mesmo que esteja calor. Também refere sentir pouca ou nenhuma dor ao se cortar e, não ter vontade de parar de se automutilar.

 

A automutilação insere-se no quadro de um Transtorno de Controlo dos Impulsos, sendo que, segundo o DSM-IV se carateriza pelo “fracasso em resistir a um impulso ou tentação de executar um ato perigoso para a própria pessoa ou para os outros. O indivíduo sente uma crescente tensão ou excitação antes de cometer o acto. Após cometê-lo, pode ou não haver arrependimento, auto-recriminação ou culpa.”
O impulso possui uma qualidade irresistível e propulsora, com um aparecimento súbito, sentido como urgente e, se a ação for inibida, um estado de extrema tensão pode resultar disso. Os impulsos dão de natureza erótica ou agressiva. Por sua vez, uma compulsão é o tipo de conduta que o sujeito é levado a realizar por uma imposição interna. Quando não se realizam, acarretam um aumento de angústia exercendo, assim, uma força interna imperativa.
O sujeito impulsivo é aquele que age irrefletidamente, obedecendo ao impulso do momento e que, facilmente se enfurece ou se excita. Já a impulsividade é caraterizada pela incoercibilidade do desejo e incapacidade de adiamento de uma gratificação, bem como pela capacidade reduzida de reflexão e maior precipitação a um ato, e ainda, a exacerbação do desejo de experimentação.
A impulsividade é classicamente descrita como um componente ou traço do temperamento, um componente hereditário e temporalmente estável da personalidade.
A automutilação, especificamente, diz respeito a um comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. Os pacientes que se utilizam desta prática podem, em outros momentos, tentar suicidio com overdoses ou outros métodos convencionais. As formas mais recorrentes de automutilação são: cortar a própria pele (70%), bater em si mesmo (entre 21% e 44%) e queimar-se (entre 15% a 35%).
O comportamento automutilante (CA) foi classificado em quatro categorias segundo Simeon e Favazza (2001): CA Estereotipado, CA Maior, CA Compulsivo e CA Impulsivo.
Este último inclui cortar a pele, queimar-se e bater-se. Costumam ocorrer após a vivência de uma forte emoção, como a raiva, sendo vistos como forma de lidar com ela. Logo, podem ser desencadeados por uma vivência traumática ou apenas a sua lembrança. Os fatores de risco associados à automutilação são: abuso emocional, físico ou sexual na infância, viver com apenas um dos pais, conflitos familiares, conhecimento de que algum membro da família ou colega pratica automutilação, abuso de álcool e tabaco ou outras substâncias, ser vítima de bulling na adolescência, presença de sintomas depressivos, ansiosos, impulsividade e baixa auto-estima, ideação ou tentativa de suicídio.
Por sua vez, o tratamento foca a reflexão, bem como o aprendizado do paciente para tolerar e amortecer os conflitos que estão relacionados com o acto de se ferir. É importante ajudá-lo a enfrentar melhor a frustração e encorajá-lo a planear maneiras de enfrentar uma situação de stress.
De forma resumida, a psicoterapia deverá centrar-se:
1) Redução e/ou eliminação de comportamentos de risco, incluindo automutilação;
2) Mover-se emocionalemente, ou seja, deve ser ajudado a viver emoções integralmente;
3) Resolução de problemas de vida diária;
4) Mudar do “Ser Incompleto” para o “Ser Completo”.


Clara Conde